quinta-feira, 26 de maio de 2011

Luto eterno

"Enquanto houver injustiça e miséria, todo homem deve ser um revoltado" (Albert Camus)

Hoje, vou fazer uma pausa sobre os assuntos que normalmente falo, para falar (ou, nesse caso, escrever), sobre algo muito mais importante que qualquer coisa: a maldita aprovação do Código Florestal por nossos “sem-vergonha alguma" queridos deputados. O texto é enorme, mas, por favor, leiam, é muito importante.

Seria engraçado, se não fosse trágico, o fato de eu sempre ser vista como louca nas conversas entre amigos (principalmente entre aqueles que não me conhecem tanto) quando digo que tenho vergonha de ser de uma geração que não faz nada, que não luta... mas me envergonho mais ainda por não conseguir fazer tanto quanto eu acho que deveria fazer em prol de um mundo melhor...

Hoje, não subo mais no “queijo” da UERJ para gritar que temos direito a isso ou aquilo, não participo mais do centro acadêmico da faculdade nem do grêmio da escola. Cheguei à conclusão que é muito difícil mudar o mundo, mas não desisti, tenho me esforçado para ser a mudança que eu desejo no mundo: tento ser uma pessoa que não fura a fila, que não usa as pessoas como escada, que não pega o que não é seu, a pessoa que tenta fazer apenas aquilo que gostaria que fizessem com ela mesma. Consigo o tempo todo? Provavelmente não, mas me esforço para corrigir quando percebo que fui contraditória com os meus princípios. Brigo por eles e já pedi até demissão em nome desses mesmos ideais. A minha régua é a ética, procuro ser uma pessoa correta. Mas mesmo assim, fico triste achando que eu poderia fazer mais. Hoje, a insanidade me faz pensar mais na minha família, no meu marido e que eu preciso me esforçar para me manter viva (afinal, se eu resolvesse causar muito barulho – mais do que eu já causo, como tsu já costuma dizer-, além de quase apanhar, como já acontece, seria, com certeza, uma pessoa assassinada silenciada. Mas, mesmo não sendo, me sinto covarde, quando vejo notícias de pessoas que morreram em nome de suas causas (veja matéria e mensagens abaixo desse post). Mas enquanto eu penso isso, algumas pessoas simplesmente desistem de “dar murro em ponta de faca”, desistem de “nadar contra a maré”. Mas esquecem que não questionar as coisas erradas é se tornar legitimador dessas mesmas coisas, pois “quem se cala, consente” já diria um velho ditado popular.

Será que, apesar de todo mundo apoiar, ninguém viu na internet o pedido de uma ONG que as pessoas participassem da manifestação em frente ao BNDS contra a aprovação de Belo Monte??? Ao que parece não. Ficamos lá, eu e mais uns cinco “caras-pintadas”. Fiquei triste, porque a internet dá a falsa ilusão de que temos muita gente fazendo muito, mas, para mim, na verdade, a internet está escondendo a comodidade que faz parte dessa geração acomodada. Sim, acomodada, sem risco mesmo, são pessoas que clicam, assinam uma petição, mas não tem coragem de dizer isso em público, na frente dos amigos, pessoas que acham que é perder tempo lutar lá por aquelas pessoas ou coisas que elas nunca viram na vida.

O fato é que infelizmente não acredito que o Senado fará realmente algo para mudar o código florestal para o bem da nação ou que a Dilma vai ter peito de vetar os artigos absurdos que passaram pela aprovação e como forma de protesto, sugiro fazermos uma manifestação, ninguém vai precisar parar a Av Presidente Vargas ou a Paulista. A ideia é andarmos em todos os lugares que formos com uma camisa / cartaz, com um texto tipo: "Luto sem fim pelo Código Florestal Aprovado". Ou algo do tipo, aos mais criativos, me ajudem com o texto. Penso, que se a gente não pode ir à Brasília e pular na água, queimar a bandeira ou coisas do tipo (se bem que eu penso às vezes em jogar tudo fora e fazer isso, mesmo que me custe o emprego rs), há algo que podemos fazer. Que tal?

Podemos fazer a camisa bem baratinha e vender pela net para os amigos e garantir que todo mundo faça. Dá para montarmos algo tipo flash mob, pedindo para as pessoas irem para a estação de trem, para as ruas. Sei lá, acho que estou delirante... e vocês, o que acham?

2011/5/25 Carol Rodrigues
Caros amigos,
esta terça-feira entrou mesmo para a história como o dia onde, mais uma vez, nossos governantes mostraram não ter nenhum tipo de vergonha de utilizar a máquina pública para interesses próprios. Um dia onde todos nós, brasileiros, assistimos ao resultado da falha de nossas escolhas eleitorais, da nossa falha em exigir o cumprimento de nossos direitos, de cumprir o nosso dever.
Ontem, um código florestal "perverso", segundo 10 ex-ministros do meio ambiente, foi aprovado por nada menos que 410 deputados, contra 63 que disseram não à proposta. A construção deste novo documento deveria ser feita  em conjunto, levando em consideração a opinião popular (que foi articulada pela Avvaz, que conseguiu mais de 150 mil assinaturas contra o código que foi aprovado) e de especialistas do setor privado e público. Mas os 410 deputados são autosuficientes.. Não precisam da opinião de ninguém para decisões tão importantes como esta. Nestas circunstâncias fica difícil não acreditar que outros interesses que não os da maioria, foram tomados como prioridade numa manobra ilegal.

Também ontem, assistimos, de mãos atadas, a morte de dois ativistas brasileiros, raçudos, que dedicaram suas vidas à causa dos castanheiros do Pará, contra madeireiras ilegais, grileiros e outros vilãos.
Os dois, marido e mulher, foram assassinados brutalmente pela manhã, ratificando a tristeza, neste dia, da floresta e de seu povo pela falta de voz e de direitos contra os absurdos impensáveis que acontecem pelo país.
José Claudio Ribeiro foi palestrante do TEDxAmazônia, conferência internacional que discutiu, no fim de 2010, a qualidade de vida no planeta sob o foco da sustentabilidade ambiental. Ele disse em sua palestra: 

“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Porque eu vou para cima, eu denuncio os madeireiros, os carvoeiros e, por isso, eles acham que eu não posso existir. A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci”.
Leia o post sobre o assassinato no blog do TEDXAmazônia e veja a palestra de José Claudio Ribeiro: http://tedxamazonia.com.br/blog

Impossível ver a luta de um homem e uma mulher de bem acabar desta forma e não se revoltar contra o silêncio de todos os cidadãos de bem. Estamos em maior número ou não estamos? 

Neste momento, com a desesperança renovada, olho pra o chão e me pergunto o que será de nossa cidade, nosso país, nosso mundo se coisas desse tipo continuarem a acontecer. Desde os primórdios assistimos com lágrimas nos olhos a estas injustiças, mas a pergunta é: até quando?

Até quando continuaremos nossas vidas sem dar a devida importância a fatos como estes, banalizando a vida preciosa de brasileiros que viveram em guerra pra garantir alguma justiça à povos sem voz? Até quando vamos só lamentar e conversar nos bares e reuniões de amigos o quanto a vida poderia ser bem melhor, sem fazer o suficiente para que ela de fato seja? Até quando? Até quando..

Existem muitos caminhos pra que isso seja diferente. Existe um caminho pra cada um que queira fazer "A" diferença. O que eu peço aqui é que vocês, amigos queridos, procurem seus caminhos para "serem a mudança que vocês querem ver no mundo".

Não esfriem seus corações. Chorem quando um brasileiro honrado perder sua vida por uma causa maior. Motive seus amigos a sentirem esta dor, este luto. Provoque o incômodo, não o abafe com ilusões. Elas não duram. E lutem.. do jeito que for, não desistam nunca.

Ainda dá tempo de assinar a petição organizada pela Avvaz contra o código que está para ser aprovado: agora estamos tentando fazer com que a Presidente Dilma vete os termos mais perigosos. Assine aqui: http://www.avaaz.org/po/codigo_florestal_urgente/?fp

Quanto à morte de José Claudio e sua esposa.. espalhe a notícia! Vamos mobilizar o máximo de pessoas para pressionar as autoridades a achar os responsáveis por mais este crime!

Com esperança em tempos melhores,

Ana Carolina Rodrigues  

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Um luto sem fim
O dia 24 de maio de 2011 deverá ser lembrado para sempre na história do Brasil. Infelizmente, não como uma data especial, de conquistas para o futuro democrático e mais igualitário do país. Pelo contrário. A memória e os livros de história deverão sempre remeter a esta fatídica terça-feira como um momento de luto absoluto. Afinal, se, pela manhã, a pátria tupiniquim conheceu o seu mais novo Chico Mendes com os brutais assassinatos do ativista ambiental e coletor de castanha, José Cláudio Ribeiro da Silva, e de sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, à noite foi a vez do conforto da Câmara dos Deputados votar a favor da destruição da floresta embrulhada sob a forma de relatório do neoruralista Aldo Rebelo (PCdoB/SP). 
Hoje cedo, uma emboscada tirou a vida de um dos principais defensores da Floresta Amazônica. Zé Claudio, como era conhecido, voltava para casa com sua mulher no Pará. Tal Chico Mendes, ele também denunciava o corte ilegal de madeira e recebia inúmeras ameaças de morte. O governo nunca ligou, a polícia tampouco. Nesta terça, sua morte foi capa do britânico The Guardian, que relatou a luta ao mesmo tempo silenciosa (ao menos para a imensa maioria da população nacional) e em alto e bom som deste homem que tinha um único interesse: proteger o que o ser humano, por natureza, não tem o direito de destruir.
De noite, a milhares quilômetros do Pará, outro crime contra a humanidade foi praticado, este amplamente noticiado em tempo real pelos veículos de comunicação e membros da sociedade civil: a aprovação acachapante da reforma desleal de uma das legislações ambientais mais rigorosas e importantes de todo o planeta. Em Brasília, no Congresso Nacional, após uma sucessão de guerras verbais, bravatas e confusões nas últimas semanas, 410 deputados federais disseram sim ao projeto da bancada ruralista, que não beneficia a ninguém – a não ser a eles próprios e seus pares, senhores do agronegócio. Os pequenos produtores, o MST, a Via Campesina, até a Contag, estes são contra, assim como bravos 63 deputados.
O retrato do que aconteceu nesta terça-feira é simples e todos conhecem: Cândido Vaccarezza, líder do governo, e Paulo Teixeira, líder do PT, disseram que não concordavam com relatório do Aldo, mas confirmaram que o partido da presidente votaria a favor do relatório (vergonha moral, diga-se de passagem); a tentativa firme, embora frustrada, do PSOL e do PV de anular a votação; o apoio quase em uníssono para o fim da Reserva Legal em propriedades com até quatro módulos fiscais e a anistia a desmatadores (o que ainda pode mudar, pois a emenda 164, que passa aos estados a responsabilidade de definir ocupação consolidada em Áreas de Preservação Permanente, será votada – e o PT afirma que será contrário. Mas, a esta altura do campeonato e com tantas decepções, por que acreditar?).
A decisão dos deputados, escolhidos por nós, população brasileira, mancha a história e pune o futuro. O desmatamento vai multiplicar, e agora será praticamente legalizado; a biodiversidade se verá amplamente afetada; e o Brasil não conseguirá atingir as metas de redução nas emissões de carbono prometidas em plena COP-15, na Dinamarca. Mas não é só. As tragédias naturais ganharão proporções geométricas, enquanto a falta de água se espalhará para todas as regiões. O preço é muito alto, e querendo ou não, teremos que pagar.
Pouco importa se estamos em pleno Ano Internacional das Florestas, cunhado pelas Nações Unidas, ou se a Semana Nacional da Mata Atlântica começa amanhã. Também de nada vale a proximidade do Dia Mundial do Meio Ambiente ou os preparativos para a Rio+20, quando veremos quais acordos da Rio 92 foram ou não cumpridos. Para o benefício imediato de alguns, vale tudo. E sabe quem encheu os pulmões para dizer isto? Eu e você, nas últimas eleições.
Que o luto de hoje não se restrinja aos três dias e à bandeira erguida a meio mastro. As conseqüências, de tão graves, pedem muito mais. 
fonte: Instituto Terra (passado por Patricia Olivieri)

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